"Tenho a casa perfumada por jacintos. Foram as flores que escolhi dar-lhe
este ano. Fui buscá-los ontem, pu-los em água e desde aí que a minha
casa cheira ainda mais a flores do que é costume. Ainda ontem lhe dizia
que, para mim, é a melhor do mundo, que não a trocava, mesmo que me
levassem à loja das mães. É minha. E eu gosto dela como se gosta das
mães. Nunca fui de contar-lhe tudo o que se passa na minha vida. Acho
que vai sabendo, apesar disso, de muitas coisas. Adivinha-as. Não temos a
relação que tenho com as minhas melhores amigas. E acho isso perfeito.
Não queria que fosse de outra maneira. Não há razão nenhuma para que
entre uma mãe e uma filha se estabeleça a relação de melhores amigas.
São coisas diferentes. Ser mãe é outra liga. Não quero contar à minha
mãe todos os disparates que faço e todos os que não faço apenas porque
não tenho oportunidade. Não. Da minha mãe reclamo um colo sem cobranças,
sem perguntas, sem longas explicações. Dela espero a voz serena de quem
acredita com todas as forças, quando me diz "Já passou" ou "Vai ficar
tudo bem", que, efectivamente, já passou e vai ficar tudo bem. Da mãe
quero o conforto dos sítios a que podemos voltar sempre, porque nos
esperam ainda antes de nascermos. Se um dia for mãe, é isso que quero
dar aos meus filhos. A certeza de que o resto do mundo pode virar-lhes
as costas, que haverá sempre um sítio só deles: o lugar inteiro que lhes
destino no coração."
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docinho de maracujá